Qual a cor de Goiânia? - Osmar Pires Martins Júnior
Tendo em vista a matéria publicada no último dia 10 do Diário da Manhã, com o título “Goiânia, uma cidade cinza”, apresento dados sobre o assunto, desenvolvidos em pesquisa científica, que fornecem outra visão sobre a cor de Goiânia. A cor verdadeira não é cinza, e sim, verde. Por quê? Porque se trata de uma cidade com o maior índice de área verde - IAV do País, o dobro do que existe em Curitiba. E esta não é uma cidade planejada; o seu início se deu como pouso de garimpeiros. A capital do Paraná é idolatrada por arquitetos-urbanistas, e por formadores de opinião que colocam o gestor curitibano, Jaime Lerner, à condição de homem influente no mundo globalizado.
Se Curitiba é modelo, com a metade do IAV de Goiânia; se Curitiba é modelo, apesar de falta de planejamento original; se o gestor público de Curitiba é respeitado e reverenciado, então, por que Goiânia, que foi planejada por dois dos maiores urbanistas do País do século XX - Attílio Corrêa Lima e Armando Augusto de Godoy, ainda não recebe a mesma consideração dos formadores de opinião?
A dificuldade estaria na concepção urbanística que originou a capital dos goianos? As pessoas privilegiadas que tiveram a oportunidade de visitar e conhecer Londres, Paris, Copenhague, Versalhes, dentre outras cidades do continente europeu, voltam com postais nos quais posam em frente aos parques, praças e bulevares floridos e verdes e os exibem orgulhosos, mostrando que lá estiveram?
As metrópoles européias foram revitalizadas por conta da concepção urbanística elaborada por Ebener Howard, a mesma que Attílio e Armando aplicou na elaboração do plano original de Goiânia. Tal concepção se chama cidade-jardim, constituída por um conjunto de elementos: a elevada disponibilidade de área verde por habitante, o sistema viário radial-concêntrico, a articulação entre o urbano e o rural, a proteção das margens e nascentes dos mananciais, a preservação das florestas e sua transformação como parques urbanos no parcelamento do solo e a manutenção da permeabilidade deste para a contenção dos fenômenos das enchentes urbanas.
Nada tão atual, não é verdade? Então, qual a razão do desconhecimento verdadeiro significado do termo cidade-jardim?
A cidade de Goiânia foi planejada numa concepção moderna, mas persiste a tendência de renegar o plano original como coisa ultrapassada. Com isso, facilita-se o jogo dos especuladores imobiliários que, desde as origens da cidade, tentaram e conseguiram excluir o arquiteto-urbanista Attílio C. Lima e o engenheiro-urbanista Armando A. de Godoy da formulação das políticas públicas de gestão do espaço urbano de Goiânia. Infelizmente, ambos faleceram precocemente, aos 42 anos de idade. Durante muitas décadas, a cidade se manteve órfã tecnicamente, sem gestores que pudessem contribuir na formulação de políticas públicas de desenvolvimento urbano sustentável.
A gestão de Goiânia acabou nas mãos dos especuladores da firma loteadora Coimbra-Bueno, que ficaram milionários comercializando parques, praças e terras públicas pertencentes ao povo de Goiânia. Tanto que o primeiro ato do governador Jerônimo Coimbra Bueno foi assinar uma lei (Lei 176, de 15/03/1950) que extinguiu o conceito de cinturão verde e das cidades-satélites (estas seriam bairros afastados do Centro, no hexágono do plano original, entremeadas por áreas verdes). De uma só tacada, o loteador-governador aprovou mais de duas centenas de novos loteamentos no cinturão verde de Goiânia!
Daí a importância de se formular melhor a identidade de Goiânia, sua origem, evolução, atualidade e futuro. A formulação correta nos leva a recuperar um importante patrimônio ambiental, com a implantação de parques, proteção dos rios, das matas, de articulação do meio ambiente com a solução de questões de infraestrutura urbana fundamentais, como o sistema viário e de saneamento ambiental (águas, esgoto, drenagem, resíduos urbanos, controle da poluição e da qualidade do ar). Permite ainda a execução de programas bem-sucedidos que proporcionam resultados vitoriosos à população goianiense, como a implantação das dezenas de parques construídos nas gestões dos prefeitos Darci Accorsi e Iris Rezende, que honraram o legado deixado por Pedro Ludovico Teixeira ao projetar e construir uma cidade com os pressupostos da modernidade. Adaptada à realidade moderna, a gestão do plano original possibilita superar os conflitos atuais rumo ao futuro, assegurando qualidade de vida aos goianienses.
Por outro lado, se a visão da identidade goianiense é incorreta, o patrimônio ambiental é dilapidado como no clássico caso do loteamento do Parque Vaca Brava durante gestões de prefeitos biônicos nas décadas de 1970 e 1980.
Osmar Pires Martins Júnior é biólogo, engenheiro agrônomo, mestre em Ecologia, doutorando em Ciências Ambientais pela UFG, foi secretário do Meio Ambiente de Goiânia, perito ambiental do MP-GO e presidente da Agência Ambiental de Goiás, autor de pesquisa científica na UFG que quantificou e classificou os espaços livres e áreas verdes do município de Goiânia - 15 de Maio de 2010
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